quinta-feira, 13 de junho de 2013

Porto Novo.



Está resolvido. Colocado finalmente um ponto final no lastimável processo que definiu a substituição de Vitor Pereira, o treinador ficou definido e oficializado na passada 2ª feira.







Cresce a expectativa, como sempre nestas circunstâncias. Aguça a curiosidade de percebermos o que será este Porto, as bases em que será construído, a definição do modelo de jogo, quais serão as novas referências, acresce a dificuldade de atravessar a dita Silly Season, que por alguma razão adquiriu esta alcunha.





A aposta é de risco. É de risco porque o rival subiu o nível nos últimos anos e porque tudo indica que assim continuará. É de risco porque Vitor Pereira é sinónimo de MÉRITO e COMPETÊNCIA, era garantia de que havia trabalho de qualidade para sair mais uma vez por cima do rival mais forte que enfrentamos nos últimos tempos.

Estar por esta altura a especular sobre o que poderemos esperar será um arriscado exercício de futurologia. Há muitas incógnitas para serem respondidas, nomeadamente sobre a definição do plantel, que quando estiverem resolvidas nos poderão esclarecer melhor sobre o que poderemos esperar.

Há dois dossiers chave: Fernando e James.

No lugar do primeiro cabe perceber, em primeiro lugar, se fica ou não no clube. Caso o cenário mais provável se confirme, que tipo de jogador iremos procurar para o substituir. Procurará o FC Porto um 6 capaz de jogar sozinho no vértice inferior do 1+2 tradicional à imagem de Fernando, ou será alguém à semelhança de Defour que obrigará, a meu ver, a adoptar um desenho semelhante ao que vimos este ano em 3 dos 4 semifinalistas do principal torneio de futebol a nível de clubes? Poderá Danilo ter a oportunidade que deseja e que a meu ver não será assim tão descabida, dadas as suas características, se houver uma mudança de paradigma na tradicional organização do triângulo do miolo portista? Se Fernando bater as asas, serão duas as mexidas no cérebro da máquina, na principal virtude do FC Porto 12/13. O esteio do miolo do FC Porto há 5 anos é uma questão sensível.

Excluí a questão Moutinho, não por a subvalorizar. Substituir o jogador que talvez seja a melhor imagem de marca do futebol do Porto de Vitor Pereira é tarefa hercúlea, apenas porque ao que parece, a saída estará acautelada com Defour, Castro e Herrera, que serão à partida as 3 principais soluções para tentar colmatar esta enorme perda. Moutinho foi o pêndulo, é mais do que a James, à lesão de Moutinho que eu atribuo o abaixamento de forma do Porto em Fevereiro/Março de 2013, numa fase em que era não só o equilíbrio como o principal factor de desequilíbrio no último terço. Tem a palavra Paulo Fonseca na definição do novo meio-campo.

E depois, a questão do desequilibrador. Principal problema do Porto 12/13, o subrendimento de James, a ausência de explosividade, de capacidade de 1x1 e de desequilíbrio no último terço. É fulcral a contratação de um jogador com estas características. Paulo Fonseca utilizava no Paços uma dinâmica em tudo semelhante ao papel que Vitor Pereira definiu para James. O jogador que a desempenhava já cá está, assim como a alternativa natural de James nos últimos 6 meses, Izmaylov. Mas isto não vai chegar. Independentemente de quais sejam os princípios de jogo e as dinâmicas da equipa que Paulo Fonseca pretenda introduzir, a contratação de um desequilibrador para as alas é fundamental. Seja qual for o modelo, qualquer equipa que se queira de topo conta com um jogador assim nas suas fileiras, e nós não podemos voltar a ser excepção. Temos que esticar e flanquear o jogo com qualidade, temos que ser explosivos e rompedores, e para isso temos que ter à disposição do treinador jogadores com essas características, ao contrário do que aconteceu na época que findou. A diferença ficou bem patente na súbita subida do rendimento de Varela, a partir do jogo na Madeira com o Nacional. E que diferença, ter um extremo que realmente desequilibra.


Estará ainda por resolver a aconselhável entrada de uma alternativa a Danilo, bem como quem serão os 4 elementos a compor a zona central da defesa. Espero que o FC Porto consiga resistir ao assédio ao fenómeno francês, sendo quanto a mim aconselhável a venda de Otamendi, central que foi protagonista duma época muito acima do nível das 2 anteriores. Haja mercado.

Jackson também não será uma certeza, dada a fantástica época de estreia que despertou a cobiça de alguns emblemas endinheirados, e cuja idade convidaria o modelo de gestão do Porto a garantir um encaixe significativo. Alex Sandro parece ter "acalmado", mas sabemos como tudo pode mudar de um momento para o outro.

Resta-nos esperar pelo primeiros jogos da pré-época para ficarmos a conhecer este novo Porto. 

Aproveitará o novo treinador a máquina de pressão alta afinadíssima herdada de Vitor Pereira? Fará da posse um pilar do modelo ou privilegiará apenas a mesma, procurando jogar um futebol apoiado e de toque curto? Tentará um futebol mais equilibrado, utilizando uma linha defensiva não tão subida ou será exactamente a mesma equipa a entrar em qualquer campo, seja o Dragão, a luz, ou o Parc des Princes? Começaremos a ver mais solicitação ao jogo aéreo de Jackson, ou continuaremos a assentar o desequilíbrio em movimentos interiores?

Não é difícil classificar a época do Paços de Ferreira. Excelente, espectacular, histórica. Terá sido este imenso sucesso sustentado ou algo esporádico? Será suficiente uma época de excelência para conduzir um treinador sem passado ao mais alto nível ao FC Porto (Mourinho com Robson e Van Gaal, AVB com 8 anos de Mourinho, VP apenas um ano com AVB)? Talvez um forte, ou mesmo o principal indicador desta escolha de Pinto da Costa esteja no adjectivo que quanto a mim melhor caracteriza o campeonato do Paços: transcendente. O que Paulo Fonseca conseguiu sem margem para dúvidas foi uma extraordinária transcendência do grupo de trabalho que liderava.

Espero que Paulo Fonseca não sofra dos problemas de profundidade e qualidade do plantel, principalmente em características fundamentais na frente de ataque, com que teve que lidar Vitor Pereira em 12/13, que impediram o técnico de desenvolver um trabalho ainda mais brilhante. Espero que Paulo Fonseca seja capaz de lidar com a pressão da exigência e do mediatismo do FC Porto e com a pesada herança que lhe caiu em mãos. Espero que Paulo Fonseca tenha mais e melhores condições do que teve o seu antecessor. Espero que Paulo Fonseca se revele capaz de levar este barco a bom Porto. Quem sabe, a que este barco se transcenda.


Por: Tribunal

4 comentários:

NobreLuso disse...

Esta apreciação está completamente errada. Até parece que "apenas" sairam jogadores (eventualmente irão sair outros) e que não entrou (ou não irá entrar) mais... Então já não se contrataram tantos jogadores? E não se cintinua a falar em nomes de topo, para o caso de sair Fernando ou outro? Não estará para regressar Lisandro Lopez?

Ninguém duvide que vamos ter um plantel ainda mais forte e, sobretudo, mais equilibrado.

Tribunal disse...

Desconhecido, apesar de efectivamente o texto acima poder ser um conjunto de perfeitas bacoradas, o que escreveu leva-me à conclusão de que não entendeu rigorosamente nada do que eu quis transmitir.

Para a próxima tentarei ser mais claro na exposição.

Silvio Santos disse...

Muito bom texto.

Apenas ficou uma questão por esclarecer nos 2 dossier chave apresentados.

Se no caso James ficou clara a opinião do autor sobre a necessidade que o plantel tem já no que toca à situação do Fernando não cheguei a perceber se prefere o padrão que caracterizou o Porto nos últimos 5 anos ou se advoga que o Porto se aproxime dos 3 semi-finalistas da Champions no seu 2+1.

Tribunal disse...

Pessoalmente sou um admirador incondicional das qualidades do Fernando e de como este faz crescer a equipa, por mim o Porto manteria a sua identidade com o 1+2 tradicional. Agora, não sei o que estará nos planos do novo Mister, e como considero a posição de trinco um elemento chave neste 4-3-3, estou curioso para ver a opção que vai ser tomada neste sentido. O mais natural será a tentativa de recrutar um 6 com o perfil de Fernando, caso se confirme a saída, mas não excluo a hipótese de uma mudança de paradigma à imagem do que temos visto na vanguarda do futebol de topo, até pelas opções de que já dispomos.

Por exemplo, quando Defour jogou no lugar do Fernando, apesar de o ter feito com competência e qualidade, as suas características não são as mesmas e isso mexe com a dinâmica da equipa. Apesar de ser um jogador muito intenso e culto tacticamente, não tem a mesma capacidade de roubar a bola do Fernando, não tem a rapidez nem a efectividade do brasileiro a matar a transição ofensiva adversária, e sobretudo não tem a mesma amplitude de movimentos, não é capaz de cobrir tanta relva, o que a meu ver obrigou Moutinho nalgumas situações a desempenhar uma função mais posicional e a redobrar atenções defensivas.

Já agora, para esclarecer a minha opinião sobre a outra questão da vaga de James, se Paulo Fonseca insistir na nuance do falso extremo, admito que Izmaylov, caso seja para ficar, e Josué (que tem qualidade), consigam desempenhar o lugar com competência. Se nos ficarmos por estas duas opções para este papel o que não podemos, na minha opinião, é deixar a outra ala a cargo de apenas Varela e Licá.

Já depois da publicação deste texto surgiram notícias que indicavam que estamos no mercado para esta posição. Espero e confio na contratação de um extremo de qualidade inequívoca, para a vaga de James ou de Varela, um desequilibrador, um "match-winner" que agarre um lugar no 11 logo à partida à semelhança do que aconteceu com o Jackson o ano passado. Alguém capaz de suplantar a perda de Hulk, o que não aconteceu na época passada. Varela é um jogador consistente tacticamente, que equilibra mais do que desequilibra. Não sou um profundo conhecedor do futebol de Licá, mas parece-me um jogador algo semelhante, apesar de mais directo e explosivo, julgo ser um jogador esforçado e cumpridor mas pouco capaz de por si só criar desequilíbrios.

Não sei como será gerida esta situação, pois além dos 4 mencionados acima, teremos ainda que contar com o que parece confirmado regresso de Iturbe, a permanência ou não de Kelvin, assim como Ricardo que julgo para já não entrar nestas contas... Já há excesso para a posição, e a equipa B apesar de útil por vezes poderá não ser fácil de encarar por alguns jogadores, há que ter atenção à gestão de expectativas.

Como disse nesta fase pouco mais poderemos fazer do que especular, resta-nos esperar pela definição do plantel e pelos primeiros jogos para vermos esclarecidas estas questões.

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