Clientela
Na clientela da Luz
Há lugar para todos:
Os bilhetes são a rodos,
Dados a quem lhes faz jus!
Sejam juízes desportivos,
Polícias, políticos,
Árbitros e "paralíticos",
Todos têm os "cativos"!
Seja o chefe d'esquadra
Ou o inspector da PJ,
Ou o outro que baix'a nota,
Tudo vê o jogo de borla!
Seja jogo nacional
Ou final da Liga Europa,
O clube da batota
Compra todos por igual!
O clube tem clientela
Pr'a tão baixo preço,
E ninguém vai preso
Por tal bagatela!
Vendem-se por bilhetes
Os da clientela,
E a vida é bela
Pr'a estes joguetes!
Vão ver o benfica,
O glorioso!
E o sentido decoroso
Na nação se fica...
É, pois, a polícia,
Que lá tem o bilhete,
E o chefe passa o torniquete
Ao lado da milícia!
É est'o estado
Da dita nação,
Onde qualquer ladrão
Se tem bem guardado!
Mesmo c'o inspector
Ali no camarote,
E a investigação por mote
"Acusador"...
Está-se mesm'a ver
O teor da justiça,
Quando é a própria polícia
Que se faz vender!?
Quem acredita
Num Estado tomado?
Um bilhete dado
À força pública?!
Não há pudor
Nem há moral,
Este é o Portugal
Vencido p'lo Adamastor!
A própria autoridade
Assim comprada,
Numa clientela preparada
À própria arbitrariedade!
Fazem parte da relação
Dos "convites";
A polícia tem limites
No campo d'actuação!
Este quadro
De cumplicidade,
É fonte d'autoridade
Deste outro Estado!
O benfica
É um Estado dentro do Estado;
A prova? Não há um culpado
Para a força pública!?
Pr'a todos estes indícios
D'ilegitimas relações,
Não haverá condenações
Na ausência de vícios!!
Mas já se conhece
O leque de tal clientelismo,
E como actua o dirigismo
Qu'a teia tece:
É o chefe Elias,
É o chefe Cruz,
No Estádio da Luz
Não há cadeiras vazias!
É o chefe Simões,
É o agente Barreira,
Não há, pois, clareira,
Em tais multidões!!
É o chefe Correia,
É o chefe João,
E outros que estarão
Pr'a sair na teia...
É o clientelismo
Das forças do BES,
É o país de través
C'o pluralismo!
É o centralismo,
"Os donos de tudo isto",
É o singular registo
Do absolutismo!
Não há competição
Onde o regime tudo tece,
E onde a polícia s'esquece
Da sua isenção...
Esta é uma nação
De faz-de-conta,
E o governo a sua montra
De negação...
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